
Município apoia lançamento de livro sobre o Tambor de Sopapo
Um tambor como elo de ligação entre o mundo contemporâneo e o passado. Não qualquer tambor. O “Grande Tambor”. “O sopapo não é apenas um tambor, é um símbolo da nossa cultura, um talismã do negro, símbolo de respeito aos nossos ancestrais. Ele está diretamente relacionado à vida do negro pelotense nas charqueadas e à história da própria comunidade”, pondera José Batista. Luthier, músico e compositor, é também o autor do livro “O Sopapo Contemporâneo – Um Elo com a Ancestralidade”, que será lançado em uma live, às 20h do dia 21 de junho, com transmissão pelo Instagram do projeto (@osopapocontemporaneo). O lançamento da obra, com o apoio da Prefeitura, terá a participação do secretário de Cultura, Paulo Pedrozo, durante a atividade on-line.
Com uma narração espontânea, em primeira pessoa, por vezes didática, outras em tom confessional e de cunho místico, o livro traz registros de memórias pessoais e familiares, de vivências e observações de José Batista, que integra o clã Batista, a tradicional família de músicos e construtores de tambores de Pelotas. “Até agora, havia narrativas negras orais ou interpretações acadêmicas. Faltava ter impressa a história contada pelo ângulo da narrativa de homem negro”, aponta o autor.

José Batista e um sopapo. Foto: Divulgação/Luís Ferreirah
Segundo Batista, “houve muitas distorções, no meio do caminho, sobre o entendimento do significado do Sopapo, que acabou sendo direcionado ao capital cultural”. Ele diz que o livro aponta a raiz pelotense como o berço cultural do instrumento. “Pelotas foi o nascedouro do Sopapo, um instrumento que também é o elo da vida do negro e o entrelaçamento dele com a sociedade. No livro, eclode o diálogo entre o instrumento e a nossa ancestralidade, um elo espiritual. É antirracista sem ser de militância”, destaca.
A publicação aborda as transformações pelas quais passou o instrumento, desde seu uso original em rituais, nas charqueadas de Pelotas, até ser incorporado em blocos burlescos e escolas de samba a partir de 1940. O livro traz documentação sobre as diversas formas de se construir o tambor – que tem 1,05 metro de altura e 53 centímetros de diâmetro (medida oficial no Projeto CaBoBu), enquanto originariamente era feito a partir de troncos de árvore e couro de cavalo e, estima-se, um tamanho de 1,5 metro de comprimento e 60 centímetros de diâmetro. Entre as transformações mais recentes, há dois modelos de sopapo para mulheres criados por ele.
Projeto CaBoBu
O livro também traz registros do Projeto CaBoBu – encontros de celebração do Sopapo, de iniciativa do músico Gilberto Amaro do Nascimento, o Giba Giba (1940-2013). Em 1999, a pedido de Giba Giba, Mestre Baptista (1936-2012), pai de José Batista e que já era conhecido como hábil construtor de instrumentos de percussão, comprometeu-se em construir 40 sopapos para o evento e coube ao jovem José Batista ajudá-lo na tarefa. Ao longo de seis meses, José Batista transmitiu seus conhecimentos sobre como construir o Sopapo a partir de uma metodologia contemporânea.
As duas edições do CaBoBu, que ocorreram em 2000 e 2001, contaram com a participação de músicos renomados, como Naná Vasconcelos e Chico César, e chamaram a atenção para o perigo de extinção do “Rei dos Atabaques” - como também é conhecido o instrumento.
Compõem, ainda, a obra literária, textos críticos, com depoimentos de especialistas, músicos, educadores e pesquisadores no estudo do Sopapo, como Andrea Mazza Terra, Eduardo Bonis do Nascimento, Gustavo Türk, Leandro Anton, Dessa Ferreira, Lucas Kinoshita, Nise Franklin, Richard Serraria e Walter Mello Ferreira (Pingo Borel), e são reverenciados no livro outros mestres e mestras que deram grande contribuição ao desenvolvimento e à difusão do instrumento no Estado, como a mãe de José Batista, Maria Baptista, Sirley Amaro, Zuleica, Banha, Bucha e Cacaio, entre outros.

Capa do Livro. Foto Divulgação/Léo Garbin
Distribuição gratuita
Publicado com recursos da Lei nº 14.017/2020 (Lei Aldir Blanc), o livro terá distribuição gratuita. Foi editado por Sandra Narcizo, da MS2 Produtora, que também participa da mesa-redonda, que será mediada pela produtora e jornalista Silvia Abreu. Em um primeiro momento, os exemplares serão destinados a bibliotecas públicas e comunitárias do Rio Grande do Sul, mas entidades ligadas a movimentos negros, indígenas, quilombolas e periféricos de todo o País, assim como artistas, comunidade acadêmica e interessados em geral, também poderão adquirir a obra gratuitamente.
Sobre o autor
Natural de Pelotas, Neives José Madruga Baptisa (José Batista), é mor (condutor de banda marcial), reformador de instrumentos de percussão, formador e instrutor de bandas escolares, grupos de percussão de ritmos afro-brasileiros e griô (indivíduo que, em uma comunidade, detém a memória do grupo e funciona como difusor oral de tradições). É oficineiro de temas sobre africanidade, toca violão e instrumentos de percussão. Em 2015, ganhou o prêmio de Reconhecimento da Cultura Popular da Prefeitura Municipal de Pelotas.
Sopapo reconhecido
Em 18 de novembro de 2018, o Sopapo passou a ser símbolo da cidade de Pelotas por meio do Decreto 6.130. Recentemente, a Câmara Municipal de Pelotas aprovou o Projeto de Lei ordinária 2.822/2021, que declara “o Instrumento Musical Sopapo, Patrimônio Imaterial da Cultura Pelotense”, por iniciativa da sociedade civil, através da movida de José Batista e Edu do Nascimento (filho de Giba Giba), que disponibilizaram o embasamento histórico do instrumento no município e na sua trajetória.
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