
Começam os testes em voluntários da vacina contra a dengue em Pelotas
O estudo de eficácia e segurança da vacina criada através de pesquisa do Instituto Butantan começou, nesta segunda-feira (7), em Pelotas. Os testes realizados pelo Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel) vão contar com a participação de 350 voluntários. Além de Pelotas outros 350 testes já começaram a ser feitos também em Porto Alegre.
Estudo com testes para a vacina contra a dengue em Pelotas - Fotos: Michel Corvello
As duas cidades gaúchas são as primeiras do país a realizar os testes por serem consideradas regiões de baixa ocorrência da dengue. A pesquisa encontra-se no último estágio, o final da fase 3, de subestudo de consistência de lotes, quando os voluntários passam a receber o imunizante num processo de acompanhamento com cinco visitas ao Centro, durante um ano. A etapa atual consiste em ensaio clínico, duplo-cego randomizado controlado com placebo. Depois desse período, o próximo passo será a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A previsão é que a vacina seja liberada em 2024.
A diretora de Atenção Especializada da Secretaria de Saúde do Município, Caroline Hoffmann, lembrou que a cidade já teve essa experiência durante a elaboração da vacina contra a Covid-19, encampada pelo Hospital Escola, com todo o resultado positivo daquele estudo e, agora, mais um trabalho fundamental para a saúde. "A gente tem a sorte de termos na cidade uma universidade federal e um hospital escola com essa expertise e profissionais altamente capacitados para colaborar com a Ciência. Tudo que vem para contribuir com a saúde pública, na busca de prevenção de doenças, é sempre muito bem-vindo", destacou Caroline, reforçando, ainda, a importância da participação da comunidade enquanto voluntária para a concretização da vacina, que é uma das grandes aliadas da saúde pública.
O primeiro voluntário
Depois do anúncio, há três dias, o primeiro voluntário, o professor de Educação Física, Juliano Baufleur Farinha, 32 anos, compareceu ao Centro de Pesquisas, reforçando a motivação de se habilitar ao teste no intuito de colaborar com a o desenvolvimento da pesquisa. "A ideia é tentar ajudar as pessoas e as instituições, no sentido de estudar mais medidas que possam atenuar ou reduzir danos tão graves provocados por esse vírus que deixa muitas sequelas. Ajudar o próximo, a pesquisa, o conhecimento", afirmou.
Juliano é o primeiro voluntário pelotense a receber a vacina teste contra a dengue em Pelotas - Fotos: Michel Corvello
A previsão é que sejam agendados, por dia, uma média de dez voluntários para as entrevistas e triagens, antes da efetivação da aplicação da vacina.
Para a pesquisadora e coordenadora dos estudos, médica infectologista Danise Senna, é muito satisfatório ver o Centro de Pesquisas do HE ativo em mais um trabalho de uma vacina, depois de atuar nas pesquisas da Coronavac e da Influenza. "É muito importante, por ser um grande desafio, manter um Centro de Pesquisa, em uma cidade do interior, por toda a logística de produtos e mostras laboratoriais e o números de voluntários a ser recrutado. É importante, ainda, para a comunidade, para as pessoas de Pelotas que terão acesso a novas intervenções", valorizou Danise.
Como ser voluntário
Para participar, os interessados devem ter entre 18 e 59 anos, nunca terem contraído dengue, não estarem gravidas, serem saudáveis e não possuírem doença crônica mal controlada. Para se inscrever, é preciso preencher o formulário disponível neste link.
A vacina e a Dengue
Desde 2009, o Instituto Butantan, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, trabalha no estudo de desenvolvimento de uma vacina contra a dengue. No momento, a vacina está em fase final de testes e análises que ainda vão se estender por um ano. Na sequência, passará pelo processo de avaliação da Anvisa para, só então, ser liberada - o que deve ocorrer em 2024.
A dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, que se prolifera a partir de pontos de água acumulada. Principalmente no Brasil, é uma doença que causa preocupação por conta do número de casos expressivos nos últimos anos.