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“Terra é poder” traz pesquisa realizada no Quilombo Vó Elvira

Promovida pela Secretaria de Cultura (Secult), exposição pode ser visitada até 28 de abril, no Casarão 6

Por Joice Lima 03-04-2018 | 17:32:13

      O artista visual paulistano Jaime Lauriano fez uma visita guiada aberta ao público, no final da tarde desta segunda-feira (2), à exposição “Terra é poder”, resultante de seu trabalho de pesquisa, no Quilombo Vó Elvira, localizado no Monte Bonito (9º Distrito de Pelotas). Inaugurada no dia 31 de março, a exposição promovida pela Secretaria de Cultura de Pelotas (Secult) pode ser vista até 28 de abril, no Casarão 6, na Praça Coronel Pedro Osório.  

Foto: Gustavo Mansur

      Em colaboração com Patrick Chagas (fotógrafo), a exposição apresenta desenhos, fotografias e áudios dos quilombolas do Vó Elvira. Também mostra peças artesanais (bonecas de pano, tapeçarias, bolsa, pano de prato, etc.) produzidas por eles e pelos integrantes dos Quilombos do Algodão (Colônia São Francisco, 4º distrito) e Alto do Caixão (Colônia Santo Antônio, 8º distrito). Em comum, estes trabalhos refletem sobre como se deu as disputas para a ocupação do solo brasileiro, o racismo estrutural e a escravidão.  

      Construídos de forma colaborativa, os trabalhos apresentados em “Terra é poder” tencionam evidenciar que o duplo da escravidão (e mais atualmente o duplo do racismo) não é somente a violência do Estado, e sim uma dura e inventiva resistência de pessoas que não aceitaram o trabalho forçado do período de escravidão no Brasil. Por isso, foi escolhido mostrar depoimentos que trazem à tona a resistência atual e pregressa das comunidades Quilombolas no Brasil, e em especial na cidade de Pelotas.

“A história eleva a população imigrante do Brasil e ignora sua população originária. Os negros são sempre esquecidos. Muitas das técnicas agrícolas ainda hoje utilizadas foram roubadas da população escravizada”, dispara o artista, cujo trabalho exalta sobretudo o etnocídio (o “assassinato” da etnia) do povo negro.

      Lauriano destaca que o Vó Elvira - que levou esse nome em homenagem a, então, moradora mais idosa, que já faleceu - tem um diferencial em relação à maioria dos quilombos. Os integrantes não são remanescentes da escravidão. São filhos de pessoas que foram escravizadas e que decidiram se unir mais por uma questão afetiva, que de resistência.

      O artista diz que os quilombos são depositários de uma história viva, portanto, patrimônio histórico imaterial e deveriam ser tombados, a exemplo do Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Lauriano recorda, por exemplo, que muito se exalta os prédios históricos das charqueadas, mas não se fala de quem foi sua mão de obra.

“Queremos tirar esse véu e mostrar essa realidade”, comentou a prefeita Paula Mascarenhas, que acompanhou a visita guiada, ao lado do vice Idemar Barz e do secretário de Cultura, Giorgio Ronna.

      “A gente percebe o preconceito nos olhares, no jeito das pessoas, nas conversas. O racismo não deixou de existir; ele só está mascarado, abafado... As pessoas não vão dar a cara a tapa." Esta frase é de um quilombola, que integra a exposição.

“A gente tem de escolher um lado. Se não o fizer, estará do lado que oprime. É preciso fazer um exercício diário de conscientização do nosso ‘lugar de privilégio’ e de como podemos usá-lo para encampar essa luta”, provocou Lauriano.   

      Estrada do artista paulistano

      Graduado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo em 2010, desde 2013 o artista fez diversas exposições individuais e coletivas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Também possui trabalhos nas coleções públicas da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu de Arte do Rio (MAR). A produção busca trazer à superfície traumas históricos relegados ao passado, aos arquivos confinados, em uma proposta de revisão e reelaboração coletiva da História. “Terra é poder” será levada à 11ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre.

      Confira a galeria completa das fotos desta reportagem no Flickr.

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